sábado, 19 de novembro de 2011

As doenças


No final da primeira semana, alguns de nós começaram a ficar doentes. Estávamos com uma rotina pesada, trabalhávamos 12, 14 horas por dia, dormindo pouco, e isso começou a cobrar seu preço.

Dos 12 que vieram da Finlândia, 10 tiveram alguma coisa. Até uma das meninas de Uganda ficou um dia de cama.

Quando começamos a ter baixas, já estávamos de volta em Kampala. Estávamos confortavelmente hospedados na YWCA (Young Women's Christian Association), com eletricidade e água encanada. O banheiro ficava a dez passos de distância, e nós trazíamos água e comida pra quem tinha ficado de cama. O meu colega de quarto que ficou 4 dias deitado tinha antibióticos para tomar.

Mas isso nos fez pensar. E se fôssemos uma daquelas famílias que visitamos?

Pra nós, a diarréia e resfriado foi mais um inconveniente do que um risco. Perdemos alguns membros em certos dias de trabalho, mas só isso. Em nenhum momento corremos risco de...enfim, de algo mais grave.

Uma das meninas ainda comentou: quando ela estava bem mal, com febre, ela pôde passar o dia na cama. Mas ela imaginou como seria se fosse uma mãe de família. Independentemente de como se sentisse, ela ainda teria que buscar água no poço e cozinhar, porque senão as crianças iam passar fome e sede.

Um dos professores da Universidade de Makerere, especialista em saneamento, comentou em uma apresentação que das 300.000 vítimas fatais dos conflitos recentes de Darfur, no Sudão, estima-se que apenas 20% pereceram por violência direta. Os outros 80% são atribuídos a doenças causadas pela falta de saneamento e higiene em campos para aqueles que tiveram que deixar seus lares.


Se fôssemos uma família africana, e não um grupo de estudantes estrangeiros, talvez alguns de nós não estivesse mais aqui para ver outro nascer do sol.

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